
Cidade, patrimônio e desenvolvimento
Desde 1º de julho de 2012, a cidade do Rio de Janeiro detém o privilégio de ser a primeira área urbana do mundo a ter o valor da sua paisagem cultural reconhecida como Patrimônio Mundial pela Unesco. Sob a coordenação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), uma equipe técnica delimitou uma área específica da paisagem do Rio para ser representativa da paisagem cultural da cidade, cuja fundação data de 1565.
Com 455 anos de história, as cidades dentro da cidade do Rio são incontáveis. E a área escolhida nesse processo representa uma cidade em particular, da qual as favelas não fazem parte, apesar da área delimitada incluir alguns morros constituídos de favelas e da população carioca residente nesses territórios representar 23% do total, com cerca de 1,4 milhões de moradores, conforme o último censo do IBGE, realizado em 2010.
"Cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo dialeticamente", afirma o geógrafo Milton Santos. Para ele, a importância de estudar os lugares reside na possibilidade de captar seus elementos centrais, suas virtudes locais de modo a compreender suas possibilidades de interação com as ações solidárias em diferentes escalas.
Se é possível pensar em uma nova ordem na qual a globalização alcance uma dimensão solidária, como propõe Milton Santos, acreditamos que esse caminho passa pelo reconhecimento do lugar das favelas em toda sua singular complexidade, parte indiscutível da composição da paisagem cultural das cidades contemporâneas. Com esse olhar, é preciso que se amplie o debate não só sobre como são definidos valores universais excepcionais, caso da chancela da Unesco, como também outros critérios de atribuição de valor, que estabelecem parâmetros e diretrizes do que deve ou não ser aceito enquanto patrimônio.
Apesar de árduas, essas são algumas questões que esperamos enfrentar no âmbito do Fórum Cidade, Favela e Patrimônio, mesmo porque, em janeiro de 2019 o Rio de Janeiro ganhou mais uma importante chancela da Unesco, tornando-se a primeira cidade do mundo a receber o título de Capital Mundial da Arquitetura, além de ter sido escolhida cidade sede do 27º Congresso Mundial de Arquitetos – UIA2021RIO.
O reconhecimento do Fórum Cidade, Favela e Patrimônio como um evento oficial paralelo do Rio Capital Mundial da Arquitetura e do Congresso, abre um importante canal para que possamos contribuir com o debate internacional sobre a urgente necessidade de se repensar as nossas cidades a partir de relações mais solidárias e humanistas. E só o esforço coletivo será capaz de trazer esse olhar mais amplo e diverso sobre temas tão sensíveis e desafiadores para o desenvolvimento urbano, como a constituição de patrimônios da humanidade e a relação entre patrimônio mundial e local.


Paisagem Cultural
De acordo com critérios estabelecidos pela Unesco, as paisagens culturais são aquelas que:
- representam as obras combinadas do homem e da natureza;
- são ilustrativas da evolução da sociedade humana ao longo do tempo;
- refletem comumente as técnicas viáveis de utilização das terras;
- devem ser escolhidas com base em seu valor universal excepcional e em sua representatividade na região geocultural a que pertencem, tendo em vista sua capacidade de ilustrar os elementos culturais essenciais e distintos dessa região;
- recobrem uma grande variedade de manifestações interativas entre o homem e seu ambiente natural.

Área da Paisagem Cultural Urbana da cidade do Rio de Janeiro:
- Setor um: formado pelo Parque Nacional da Tijuca, Parque Lage e Jardim Botânico.
- Setor dois: sucessão dos elementos litorâneos, composto pelo Parque do Flamengo com Museu de Arte Moderna e áreas adjacentes (Passeio Público, Praça Paris, Outeiro da Glória); entrada da Baia da Guanabara com seus morros e fortalezas dos lados leste e oeste (Rio e Niterói), estendendo-se até à enseada de Botafogo; e praia de Copacabana com suas pontas (morro do Leme e forte de Copacabana estendendo-se à pedra do Arpoador).