Equipe de Conteúdo & Comunicação
Todo cidadão é acervo; toda cidade é patrimônio
Atualizado: 26 de ago. de 2020
Por Alini Rangel
Sou Alini, mãe, avó, paulistana
Migrei de uma favela plana de Sampa
Ainda muito menina perdi minha família a tiros
E com a roupa do corpo cheguei nesse Rio
Há 21 anos acolhida pelo morro do Cantagalo tenho desejo de colaborar com a
história que trago
E agradecer também toda ajuda que tive do asfalto
Vivendo de perto que favela não é tudo igual, cada uma tem suas histórias,
Acervos, atrativos e suas verdades, o estrangeiro reconhece e valoriza tudo
isso das favelas e da cidade como um todo.
Já a relação dos moradores de favelas com seu território, em maioria reflete
um descuido, desvalorização e desinteresse, por até hoje as favelas
carregarem estigmas de inferioridade, como herança ainda do Brasil colônia,
que demolida, excluía, botava abaixo, removia morros, favelas, memórias,
histórias, empobrecendo, emburrecendo, desqualificando não só uma classe
social, não só uma cidade, mas toda uma nação
As favelas precisam se olhar, e esses poucos braços que fazem um trabalho
de formiguinha em cada território marginalizado, precisam se dar as mãos
e trocar suas fórmulas de incentivo e sucesso, ampliando forças e fazendo com
que as favelas e periferias se mostrem capazes, enfatizando ainda mais esse
poder de empreendedorismo e sustentabilidade cada vez mais crescentes,
gerando um capital de giro interno e poder de consumo.
Nesses jardins suspensos, as pessoas se esforçam dobrado para concluírem
estudos, adquirirem bens, devido as dificuldades que ao invés de serem
barreiras, tornam-se degraus, apresentando pessoas de muita garra,
criatividade, disposição entre outras qualidades, para agregar ao crescimento
da nossa cidade.
O fórum é pra trocarmos esses fatos positivos, pensar estratégias, resgatar e
dar visibilidade às histórias, vivências e tudo que de bom cada favela tem,
abandonando a velha sensação de inferioridade e despertando o sentimento de
pertencimento e responsabilidade local ou territorial, é noção de nação, e é
patriotismo mesmo que se fala doutores!
No contexto de ficar e lutar, buscar melhorias olhar de cuidado patrimonial,
amar seu lugar como ele é, acabar com essa imagem de cidade partida.
E não é assistencialismo que favela precisa!
É fazermos juntos e não para...
O Rio é uma cidade entre morros, montanhas, simbolicamente como se fosse
um retrato de uma bela paisagem onde a moldura que protege essa obra
divina, são as favelas que fortalece e embeleza ainda mais o quadro.
Favelas!!! De onde sai toda força expressiva, cultural que enriquece ainda mais
a cidade maravilhosa.
Por isso favela é patrimônio do Brasil.
Nós todos somos acervos vivos do histórico Rio.
Cultivemos e repensemos o que sugere patriotismo, patrimônio, pertencimento,
autorreconhecimento e identidade.
Não há como repensar a cidade ainda excluindo as favelas, é cometer o
mesmo erro centenas de anos depois.
Sem a moldura que protege essa bela imagem, pode molhar....rasgar ....
Cidade, favela e patrimônio!
Favelas articuladas, se articulando à cidade e seus interesses, com visão de
futuro e entendimento de que só Unidos e nos respeitando, e dando a César o
que é de César, é que se torna uma potência em comum unidade.
Alini Rangel é ativista, sócio-fundadora e Diretora Presidente do Museu de Favela,
Cofundadora do Fórum Cidade, Favela e Patrimônio